Sem dúvida é correto dizer que Deus tem ciúmes de nós. Há vários textos bíblicos que mostram Deus como um marido que tem ciúme de seu povo que frequentemente é representado na Bíblia pela figura de uma esposa amada.
A Bíblia deixa claro que Deus não aceita dividir Sua honra e Sua glória com ninguém. Os dois primeiros mandamentos falam justamente sobre isso. Neles Deus proíbe que Seu povo tenha outros deuses diante dele e pratique a idolatria. O motivo disso é que Deus é zeloso (Êxodo 20:3-5). Nesse contexto, a palavra “zeloso” também pode ser traduzida como “ciumento”, no sentido de um ardor emocional que zela e preserva.
Então as passagens bíblicas que dizem que Deus é Deus zeloso, significam, basicamente, que Ele tem ciúme (cf. Êxodo 34:14). Mas muitas vezes Israel desprezou o zelo do Senhor e se tornou alvo de seu juízo (cf. Números 25:11). O profeta Ezequiel, por exemplo, teve uma visão das abominações em Jerusalém e de uma imagem que provocava ciúme em Deus (Ezequiel 8:3).
Para Deus a idolatria é adultério espiritual. Então quando a nação de Israel cultuava outros deuses, ela era vista pelo Senhor como uma mulher adultera; e é nesse contexto que Deus é apresentado nas Escrituras como um marido indignado (cf. Ezequiel 16:38-43).
No Novo Testamento o apóstolo Paulo adverte os crentes a não provocarem ciúmes no Senhor através de qualquer idolatria (1 Coríntios 10:22; cf. Deuteronômio 32:16-21).
O ciúme de Deus não é como o ciúme humano
Mas é preciso entender que o ciúme de Deus por nós não pode ser entendido sob a base do ciúme humano em seu aspecto doentio e pecaminoso. Quando falamos que Deus tem ciúmes de nós, estamos recorrendo a uma figura de linguagem com o objetivo de explicar um sentimento próprio de Deus em termos humanos.
Essa figura de linguagem é chamada de antropopatismo. Os escritores bíblicos usam o recurso do antropopatismo basicamente quando eles atribuem a Deus características de sentimentos que são comuns aos homens.
Aqui podemos citar como exemplo aquelas passagens bíblicas que dizem que Deus se arrependeu de alguma coisa. Nessas passagens, o objetivo dos escritores bíblicos é tentar explicar um sentimento de Deus que em certa medida se assemelha a um sentimento humano, mas que não é essencialmente igual. Podemos dizer que a ideia de que Deus tem ciúmes de nós entra nessa categoria.
Como foi dito, o ciúme que a Bíblia diz que Deus sente por seu povo jamais deve ser confundido com o comportamento desequilibrado e fora de razão de uma pessoa ciumenta. Na verdade quando dizemos que Deus tem ciúmes de nós simplesmente estamos dizendo que Deus nos ama e exige de nós atenção exclusiva, fidelidade absoluta e completa adoração.
O ciúme, a honra e a glória de Deus
O ciúme de Deus é um ciúme de zelo e de preservação, que em primeiro lugar está comprometido com a Sua própria glória e com a honra de Seu nome (Êxodo 34:14); e então se estende sobre o povo que lhe pertence. Isso significa que o zelo de Deus por Seu santo nome exige devoção exclusiva de seu povo.
Portanto, ao contrário das doutrinas humanistas que têm se espalhado por aí, Deus tem ciúmes de nós não porque somos tão importantes que Ele não saberia o que fazer se nos perdesse; mas Deus tem ciúmes de nós porque Ele nos elegeu nele antes da fundação do mundo para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor, e nos redimiu através do sangue de Seu Filho para o louvor da Sua glória (Efésios1:1-14). Por isso Paulo escreve: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11:36).
A conexão entre o ciúme zeloso de Deus, Sua glória e Seu povo, pode ser percebida nas palavras do apóstolo Pedro. Ele diz: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus; a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2:9).